
Fui ao teatro assistir o musical “Matilda” (livro de Roald Dahl) em cartaz no teatro Claro desde 18/10/23. A peça conta com um elenco maravilhoso de crianças! Lindas, atuando, dançando, cantando e contando esta história!
Matilda, apenas uma garotinha. Mas que lia e muito. Os livros eram seus companheiros e as histórias seu refúgio. O que poderia uma criança ser e fazer diante do poder da tirania sádica de uma diretora e de pais que vivem alienados ao consumo? Ser “another brinck in the wall” e virar mistura homogênea na massa social? Consumir informação enlatada, prontinha e entregue de bandeja pelos meios de comunicação e reproduzi-las sem reflexão?
Talvez. Em certa medida é bem mais “fácil” reproduzir o modelo em alta, banalizando o mal.
Mas Matilda lia, e lia muito. E com sua genialidade e coragem enfrentou o que parecia ser impossível de vencer. Promoveu, para isso, uma revolução, tirando todas as outras crianças de uma posição de medo e revelando a verdade por trás da história.
Quantas crianças “ são quebradas” (como diz a diretora Trunchbull, que assim deve ser feito) para serem “educadas”? Ahhh.. mas isso não passa de ficção, mera historieta de livros! Ah, eh mesmo?? Basta darmos uma passeada por notícias antigas ou atuais para termos uma triste idéia a respeito de que, infelizmente, há um sem número de experiências infantis que são verdadeiras histórias de terror, cuja classificação etária (caso houvesse), seria reservada apenas ao público adulto +40, e ainda com pedido de liberação médica.
Quantas crianças só precisam encontrar em seus caminhos uma Miss Honey e uma Senhorita Phelps – que lhes abracem e lhes mostrem que educação é feita com letras, palavras, livros e amor, muito, mas muito amor – para que se revelem novas “Matildas” neste mundo, que a propósito, tanto precisa delas!
Essa história é um convite à reflexão do quanto ler nos oferece uma espécie de super poderes! Sim, isso mesmo! Se a gente lê, a gente argumenta. Se a gente lê, a gente questiona. Se a gente lê, a gente contesta. Se a gente lê, a gente debate, dialoga, e não impõe. Se a gente lê, a gente não se conforma com respostas rasas, rápidas e fáceis para perguntas complexas, porque a gente vai ler pra saber um pouco mais a respeito e construir uma posição mais abrangente sobre os fatos, gerando, inclusive, uma bela-fenda-de-rever-frequentemente nosso próprio ponto de vista e abrir mão de nossas próprias ideias antigas!
Por isso os livros são tão revolucionários e a leitura tão subversiva, pois nos inquieta e mistura nossas certezas com as dúvidas de um jeito bom. E o resultado é que nada ao nosso redor fica acomodado passivamente, pois a atividade mental promovida pelo mergulho na leitura é de uma intensidade comparada ao poder de mover objetos com a mente, como Matilda faz. Afinal é bem isso que os livros produzem: perguntas, que provocam movimento, a mudança e a tão necessária revolução!

Que escrita linda Fê. Que reflexão potente. Eu amei!
CurtirCurtir